Resenha: 1968 - O ano que não terminou - Zuenir Ventura
Temos aqui uma riquíssima narrativa acerca de um período determinante da vida política brasileira, bem como do próprio brasileiro. Estamos em 1968, já há quatro anos vivenciando a ditadura militar. O ditador é o indeciso Marechal Costa e Silva.
A narrativa se inicia no réveillon da família Buarque de Holanda, do ano 1967 para 1968, e ali estão presentes várias figuras importantes do país. As personalidades e as formas de expressão dessa festa despontam muito o que viria a seguir pelo ano. Destarte a narrativa do réveillon, o autor começa falando sobre os incontáveis acontecimentos do ano, como a morte do estudante Edson Luís no bandejão do Rio de Janeiro, assassinado por um militar. O interessante é que Edson Luís não fazia parte da frente dos inúmeros estudantes que saíam em protestos.
Os estudantes foram protagonistas durante todo o período militar brasileiro. Inconformados com o regime autoritário e com a truculência militar, foram muitas as passeatas e protestos realizados por todo o país em 1968. A principal, chamada Passeata dos 100 mil, dentre tantos motivos, eclodiu com a morte do estudante.
O XXX Congresso da UNE, União Nacional dos Estudantes, em Ibiúna, no estado de São Paulo, em 1968, fora também um marco. No interior dessa cidade, milhares de estudantes se reuniram num sítio, mas acabaram sendo surpreendidos pelos militares. O cabeça deles, José Dirceu.
E o grande desfecho, com a promulgação em 13 de dezembro de 1968 do Ato Institucional nº 5, o AI-5, que fechava o Congresso Nacional e suspendia alguns direitos fundamentais, foi o ápice da guerrilha dos militares em resposta aos cidadãos revoltosos. O país neste momento sofreria um golpe que visava a transferência absoluta do poderio militar para as mãos do presidente, que teria plenos poderes sobre o Brasil.
O autor, Zuenir Ventura, detalha os aspectos da censura, quantificando o número de músicas, peças de teatros, novelas, livros e toda manifestação cultural e artística que fora censurado em 1968.
O livro é um marco da literatura brasileira e deve ser lido. O conhecimento sobre a (des)construção política brasileira é de proeminente importância para que seja possível entender tudo o que ocorre no cenário político atualmente. A corrupção brasileira tem guarida em tempos militares, e salvaguardando os nossos direitos, o cenário nacional só veio a piorar. E é latente essa constatação quando da leitura do livro.
Nota: 5/5 (Excelente)
Editora: Nova Fronteira
Páginas: 312
Ano: 1988
E aí, você já leu? Poste aqui o seu comentário.
Até mais! João Pedro
05 agosto 2014
Post A Comment
Nenhum comentário :