Resenha: Histórias Que Não Contei - Roberto Junqueira de Alvarenga
O renomado Dr. Roberto Junqueira de Alvarenga nos mostra em Histórias Que Não Contei sua grande contribuição na área médica, especialmente em Patologia, onde dedicou sua atenção e é considerado hoje o “pai da Anatomia Patológica”.
O livro é composto por vários contos que nos mostram desde a formação do médico até o seu posicionamento ideológico em mais de meio século voltado ao ensino e à prática da Patologia.
Através de seus depoimentos somos inseridos no contexto histórico do Brasil nas décadas de 50 e 60 e levados a analisar o momento político pelo qual o país passava e a importância dele no cotidiano das pessoas. Ora a política é manifestada em rivalidades na classe médica dos hospitais em que atuou, ora ele próprio foi considerado comunista quando do regime militar.
“Com a instalação do regime militar, a Diretoria e a maioria da Congregação que eram simpáticas ao mesmo, minhas intervenções a favor de solicitações dos alunos, que me pareciam justas, fizeram com que eu fosse taxado de comunista, visto que ser contrário a qualquer atitude do regime militar era ter atitude comunista, e as reivindicações dos alunos, mesmo que justas, eram usualmente negadas.”
Figuras ilustres da história mineira, do país e do exterior também são lembradas no livro. Destaque para o Dr. George Nicholas Papanicolaou, com que conviveu e estudou em Nova York, e o ex-Presidente da República Juscelino Kubitschek, amigo de longa data recebido em seu gabinete quando já Diretor da Faculdade de Medicina da UFMG, mesmo em pleno regime militar e quando o ex-Presidente encontrava-se cassado de seus direitos.
Uma lição merece destaque: diagnósticos diferentes dados por patologistas diferentes não significam inimizades entre os mesmos, fazendo-se necessário respeito entre eles.
“Nas reuniões da Academia de Ciências de New York que frequentei, era comum ouvir opiniões diferentes dentro do maior respeito existente entre os membros.”
Há ainda alguns contos bem divertidos, como o “Androgametas” e o “Dificuldades com abreviaturas”.
“Hoje em dia no Brasil, mesmo nos relatos médicos, são muito frequentes abreviações, sendo que algumas até os leigos costumam saber o significado. É comum ouvirmos dizer que determinada pessoa foi acometida de AVC e os leigos saberem que tal abreviatura significa Acidente Vascular Cerebral.
Como não sabia que em inglês CVA era “cerebral vascular accident”, informei a um residente de neurologia, que não havia verificado nenhum CVA em paciente do mesmo, mas simplesmente uma hemorragia cerebral, e ele interpretou isso como sendo brincadeira (gozação) de minha parte.”
Certamente o renomado Dr. Roberto Alvarenga ofereceu grande contribuição para a medicina, para o ensino e para a prática da Patologia, e para a Faculdade de Medicina da Universidade Federal de Minas Gerais.
Livro recomendadíssimo. Ótima leitura.
ISBN: 978-85-64158-67-2
Editora: Asa de Papel
Páginas: 88
Ano: 2014
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Até mais! Fabi
25 maio 2014
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